quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Memórias de um sobrevivente


As histórias nuas e cruas de quem esteve na mira dos submarinos alemães e assistiu soldados serem abatidos não por morteiros ou granadas, mas pelas doenças e falta de condições nos quartéis



Único rio-verdense vivo a ter servido a Força Expedicionária Brasileira (FEB) na 2ª Guerra Mundial, o veterano Agostinho José Macedo não é do tipo que fala com o ufanismo que muitos esperam de um ex-combatente. E não é à toa. Simplesmente não dá pra lembrar com muita saudade dos três anos que passou em um quartel com 650 homens, sem as menores condições de higiene e sobrevivendo de uma mistura de abóbora, feijão e arroz.
Hoje com 92 anos, ele articula a narrativa das histórias que aconteceram 70 anos atrás como se elas tivessem acontecido na semana passada. Lembra-se, por exemplo, da convocação para a guerra que tirou de suas famílias milhares de soldados brasileiros. Agostinho tinha 21 anos e havia acabado de se formar na primeira turma do Tiro de Guerra de Rio Verde. “A gente saiu de casa sem saber se voltaria vivo.”
Sem saber se a qualquer momento seria mandado ou não para o combate em terra na Europa, foi enviado para a Ilha de Cananéia, no litoral da Bahia, em 1941 e só retornou depois do fim do conflito, em 1944. No quartel, viu muitos colegas serem abatidos não por rajadas de metralhadora ou granadas, mas pelas doenças que se alastravam entre os reclusos. Um ano após sua chegada, ele mesmo vislumbrou a morte de perto. Estava em um dos seis navios que partiriam do litoral brasileiro para cruzar o Atlântico. Ao ser informado de que as cinco primeiras embarcações tinham sido atacadas pelos torpedos dos submarinos alemães, o comandante abortou o projeto. “A gente já tinha avistado muitos submarinos e sabia que estava na mira.”

Apesar da recepção festiva que os pracinhas brasileiros tiveram ao retornar para os seus lares, os combatentes ainda enfrentariam uma batalha de décadas pela aposentadoria. Foi apenas no governo de Fernando Collor de Melo, em 1992, que Agostinho e os demais ex-combatentes que restavam vivos passaram a receber suas aposentadorias. “Collor é de família de militares, então acho que ele ficou com vergonha de não pagar essa dívida.” Diferentemente da sorte de outros pracinhas, Agostinho voltou para sua terra com saúde de ferro e muita disposição para trabalhar. 

Entrevista João Barone


A opinião do baterista do Paralamas do Sucesso sobre como seria o mundo hoje se Hitler tivesse vencido a guerra, a experiência de tocar com o guitarrista do Queen em Londres, música na era da internet e a força do discurso do Rock nos anos 80





Chamado pelo vocalista Herbert Viana de “as baquetas mais rápidas da América Latina”, o baterista do Paralamas do Sucesso, João Barone, é um dos instrumentistas mais premiados do País. Ao longo dos últimos 30 anos, ele ajudou a escrever a história de uma das bandas mais resilientes do rock nacional. Paralelamente, fez trabalhos solos, gravou e compôs músicas com os principais artistas da MPB, do Rock e do Pop, como Jorge Ben Jor, Zé Ramalho, Rita Lee, Ultraje a Rigor e Titãs.
Fascinado com as histórias do maior conflito mundial de todos os tempos, Barone já fez um documentário sobre o assunto e lançou em 2013 seu segundo livro a respeito da 2ª Grande Guerra. Em “O Brasil e sua guerra quase desconhecida”, ele joga uma luz sobre a participação heroica dos pracinhas brasileiros na luta contra o nazismo de Hitler. Em passagem por Rio Verde para mais um show da turnê de 30 anos da banda no mês de junho, Barone recebeu generosamente a King no saguão do Blue Tree Hotel algumas horas antes da apresentação. Na conversa com os editores Fernando Machado e Thiago Pereira, ele ridicularizou comentários de que a banda tenha planos de aposentadoria e relatou a experiência de cair novamente na estrada aos 52 anos.



Como estudioso da 2ª Grande Guerra, qual é sua opinião acerca das teorias de que Hitler e outros nazistas da Alemanha teriam fugido para a América do Sul?
Chega a ser uma sátira, uma piada. O Hitler morreu mesmo. Ele estava encurralado no seu bunker. Existem provas sérias disso. Recentemente um filme chamado “A Queda” gerou polêmica por que teria “humanizado” o Hitler. Ele foi elevado à categoria de anticristo, mas o que tem de mais assustador é saber que ele era um homem de carne e osso. Ele tinha uma inteligência muito aguçada para conseguir o que queria e levou seus planos às últimas consequências, acendendo o pavio do Holocausto e colocando o mundo numa guerra como jamais tinha acontecido na humanidade. Ele tem esse caráter mítico, mas na verdade esse poder foi sendo outorgado pelas pessoas que estavam ao redor dele. Todo mundo quer um salvador da pátria e foi isso que ele prometeu ao assumir o poder. E até hoje está todo mundo discutindo o que existia na cabeça do Hitler. Grandes filósofos, historiadores e meros mortais como nós aqui agora tentamos achar uma explicação acima da razão para ele. Pra mim o mais horripilante é terem entregado esse poder da vida e da morte para um homem. Essa é a grande lição. As outras histórias são balelas. Tem gente vendendo livro dizendo que ele foi morar na Argentina. Um monte de nazistas conseguiu escapar e foram julgados e condenados à revelia. Depois que ele morreu, ficou fácil dizer que estavam cumprindo ordens. Ele virou o grande bode expiatório de comandantes do regime. O Hitler tem isso. Quando alguém quer vender revista e livro, bota a cara dele na capa.
Como seria o mundo hoje se Hitler tivesse vencido a guerra?
A gente estaria falando alemão aqui agora (risos). Hoje você vê esses movimentos de neonazistas, muito deles adeptos do Rock e do Speed Metal, com essa pinta de punk e de tatuado, mas o mais antagônico é que se os nazistas tivessem vencido não teria lugar pra essa turma. O Rock não existiria. O Heavy Metal não teria surgido. Se o mundo fosse nazista, a gente só ouviria sinfonia do Wagner. Se a gente tivesse um mundo tão asséptico, vigiado e manipulado como eles queriam, um mundo perfeito em que não existiria a arte degenerada, também não teríamos as mesmas expressões humanas que elevaram a humanidade.
Do jeito que o mundo é hoje, você acha que um dia poderá acontecer uma nova guerra mundial?
 Acho que a gente vive uma nova realidade. Hoje o que fala mais alto são os interesses das grandes corporações. O que realmente dá lucro para a indústria bélica são os conflitos localizados. Os EUA faturam muito com isso. Acho que não existe clima para voltar a ocorrer um conflito generalizado.
Você acredita que as manifestações que começaram a acontecer nas ruas podem realmente desencadear as mudanças necessárias para o País?
O Lula fez o brasileiro ficar muito tempo hipnotizado com essa história de que era a vez do Brasil. Começaram a dizer que o País tinha “chegado lá”, mas continua existindo um atraso de décadas em educação, saúde e cultura. Não adianta tapar o sol com a peneira na economia: a inflação está aí. Eu fico feliz com os protestos. Claro que não sou a favor dos excessos nem da violência. Realmente tem algumas perdas e danos, mas é sensacional que, mesmo com a tão decantada ascensão social do Brasil, a classe média comece a ter percepção do que está acontecendo. Existe uma grande maquiagem e falta de pulso do nosso governo em resolver os problemas essenciais do Brasil. As mudanças estão muito aquém do necessário, tinham de ser mais profundas. O partido que está no poder comemora 10 anos no poder, fez algumas melhorias, mais ainda tem muita coisa solta. Ainda não fizemos a revolução que outros países fizeram na educação para tirar o país da indulgência científica. É uma violência constatar que grandes cérebros ainda precisem sair do Brasil para botar em prática a sua capacidade. O pessoal da esquerda, que chegou ao poder, está muito “vão ter que me engolir.” As coisas não são assim. Calma.
É muito diferente fazer música para um público  que comprava os LPs do Paralamas do público que faz download das músicas e assiste centenas de clipes no Youtube?
Da mesma forma que a produção musical foi democratizada, dificultou muito pra acontecerem fenômenos de vendagem de discos, seja LP ou CD. Hoje em dia você conta nos dedos de uma mão as bandas que vendem muito. Houve um desmoronamento da estrutura das gravadoras que bancavam a trajetória dos artistas. Agora é uma realidade totalmente nova. A contrapartida de quem toca, canta ou compõe tem que ser, pelo menos no nosso caso, investir muito mais na performance ao vivo e cair na estrada. Não vendemos mais disco como antigamente, mas fazemos muito mais shows. Você não precisa de um estúdio gigantesco para gravar uma música, você pode fazer isso em casa. Talvez os Paralamas representem um pouco dos nomes que ficaram de uma época em que havia esse domínio das gravadoras. Ficou a herança muito grande de exposição que ajuda muito até hoje. Se a gente fosse uma banda nova hoje em dia, não sei se chegaria onde está hoje. Tem muita gente boa surgindo o tempo todo. Nesse exato momento tem uma banda de garagem fazendo algo original e criativo, mas que vai brigar com outras 20 bandas grandes pra que alguém veja seu novo clipe no Youtube. Agora é tudo mais fugaz. Eu lembro o quanto era estreito esse funil. Hoje não tem funil. São 300 mil bandas novas por segundo e você não tem como separar o joio do trigo. Fazer sucesso nos tempos atuais é um mistério.
Conte um pouco sobre a relação da banda com a Argentina. Como isso começou e o que significa hoje?
A primeira vez que chegamos lá para fazer um show foi em 1986. A Argentina tinha uma cena de Rock muito forte. É uma instituição nacional deles. Eles fazem com uma convicção como se tivessem inventado o rock. O Herbert principalmente se aproximou muito de caras como Charly Garcia e Fito Páez. Eles acabaram trocando muitas influências e se identificando muito. Aos poucos, convencemos as gravadoras a lançar nossos discos lá. A Argentina representa muito a nossa tentativa de romper fronteiras com a América espanhola. O Brasil sempre foi uma ilha com um monte de países que falam espanhol ao redor. Tentamos quebrar um pouco desse paradigma e a indústria fonográfica contribuiu. Com muito orgulho a gente pode afirmar que muita gente no Brasil conhece um pouco das bandas latinhas pelas mãos dos Paralamas. Até hoje temos um grande reconhecimento lá. Recentemente tocamos no Dia da Independência deles, um show bem na frente da Casa Rosada.
É verdade que a banda vai acabar depois da turnê de 30 anos?
Isso é igual falar que o Hitler foi morar na Argentina (risos). Absolutamente.  Vamos seguir em frente e tentar conciliar tudo. Eu fiquei três anos para escrever um livro. O Herbert acabou de lançar um disco solo. A gente tinha juntado material pra lançar um disco, mas surgiu a ideia de fazer uma turnê em comemoração aos 30 anos de estrada. É legal estar nessa fase e poder colocar um show bem estruturado no palco, misturando o repertório musical com uma produção visual interessante.
Vocês gravaram uma faixa com o Brian May (lendário guitarrista do Queen). Foi tudo à distância ou vocês realmente foram para o estúdio com ele?
Foi assim. A gente estava gravando o disco Severino na Inglaterra, isso em 1994, e o Brian aceitou um convite do Herbert pra tocar uma música bem roqueira feita em homenagem ao Charlie Garcia, chamada “Um Vampiro Sob o Sol”. Chegando lá, pedimos pra ele fazer um solo e também uns vocais. Quando eu vi, a gente estava gravando com ele no estúdio. Ele deu aquela cara de Queen ao fazer os arranjos vocais. Foi uma experiência do tipo “me belisca por que eu não acredito.”
Você acha que a grande sacada do Paralamas quando começou a fazer sucesso foi trazer elementos do ska tão enraizados na sonoridade musical da banda?
Não sei. Foi mais a tentativa de entrar no bonde de alguma coisa moderna naquela época. Já não era nem atual. O movimento two-tone na Inglaterra e toda essa estética tinham ido embora com a geração New Wave, na virada dos anos 80. Mas é um negócio que a gente gostava muito. Tinha esse encantamento com o que tinha virado o ska na Inglaterra, que era uma adaptação do ska jamaicano dos anos 60. Quando chegou lá virou uma coisa que até os punks gostavam. Acima do que seja o ritmo ou a estética musical que a gente deu, o que importa mais é o discurso. O Herbert teve a sacada de falar das ansiedades urbanas. Quem abriu essa porta foi a Blitz, quando começou com “Você não soube me amar...”, quase dando uma teatralizada pra revisitar o romance urbano e as coisas que todo mundo vivencia em forma de música. A gente viu muita gente fabulosa que saiu na nossa frente, como o Ultraje a Rigor e tantos outros. Mas o grande trunfo do rock nacional nos anos 80 foi o discurso mesmo. Haja vista Cazuza e Renato (Russo). O Renato não era um intérprete, era um cara que sabia o que estava escrevendo. O Cazuza era mais a persona dele que representava muito. Não é discutir o que era melhor ou pior, mas eles tinham uma assinatura própria e conseguiram mostrar algo que realmente era diferente.







quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Nós segundo eles

A visão dos estrangeiros que conhecem in loco a realidade brasileira e da nossa cidade é capaz de revelar detalhes que não estamos acostumados nem queremos enxergar em nós mesmos


Nossos costumes estão tão arraigados ao nosso dia a dia que nem nos damos conta do quanto nossos hábitos podem causar estranheza para outros povos. A  conversou com estrangeiros de todas as partes do mundo em Rio Verde e constatou que eles levam tempo para se acostumar ou mesmo entender como funciona o brazilian way of life.

O belga Rudiger Van Beneden, por exemplo, até hoje não compreendeu a explicação que recebeu para o sumiço de suas malas ao pisar pela primeira vez no país. “Disseram apenas que era assim mesmo.” Casado com a empresária rio-verdense Adriana Freire Guerra e morando na cidade há quase dez anos, ele conta que as diferenças nas relações comerciais também foram um choque cultural. “Principalmente a possibilidade de pagar quase tudo em dezenas de parcelas.” Outra curiosidade: a última vez que ele tinha visto um cheque na Europa havia sido nos anos 1980. O costume de pré-datar o cheque, segundo ele, também foi uma novidade tipicamente brasileira destacada por ele.
As observações dos estrangeiros sobre  Rio Verde e o Brasil vão de questões bastante conhecidas de quem vive aqui – comer pequi, jogar futebol e dar três beijinhos na hora de cumprimentar uma mulher – até outros hábitos que surpreendem quem é de outro país.
Falar por falar
A estudante alemã Hannah-Sophia Klein Schmeink, 15 anos, que passou quase um ano na cidade não sabia que aqui não é preciso tirar os sapatos para entrar na casa de alguém. Muito menos que falar para uma pessoa que irá visitá-la não cria nenhum compromisso de ir mesmo lá. “Na minha terra, se você fala que vai, o outro fica esperando de verdade. Descobri que muitas coisas são apenas jeitos de falar e não querem dizer nada.” A europeia, que não desperdiçou a chance de conhecer as cidades turísticas e o litoral brasileiro, ficou preocupada ao descobrir que em muitos lugares a presença da polícia causa mais medo do que sensação de segurança.
A segurança pública também foi um ponto observado pela finlandesa Laura Aspää, 18 anos. Na sua terra natal, as pessoas não costumam tirar as chaves do carro nem trancar as portas. De acordo com ela, roubos e furtos são muito raros e, quando acontecem, geralmente são praticados sem violência. Hospedada na casa de uma família rio-verdense, ela também notou que os compromissos com horários são bastante flexíveis. Só depois de vários chás de cadeira, ela aprendeu que tudo começa com pelo menos uma hora de atraso. “É a primeira coisa que aviso para as pessoas de fora que vão chegar.”
Na lista de experiências de Laura no Brasil consta uma passagem por um baile funk no Rio de Janeiro. Do outro lado do mundo, as amigas ficavam escandalizadas com a sensualidade das coreografias que viam nas fotos pela internet. “Elas diziam que se minha mãe soubesse que eu estava naquele lugar me mandaria voltar imediatamente”, conta às gargalhadas. Filha de uma família de fazendeiros – coisa rara na Finlândia – Laura notou uma grande diferença no status social dos produtores rurais em Rio Verde. “Lá existe um preconceito e as pessoas ligam a figura do fazendeiro ao de uma pessoa inculta. Aqui as pessoas enxergam com muito respeito o fato de serem ligados à produção de alimentos.”


“Aqui rico não vai pra cadeia, né”, pergunta tailandesa

A violência urbana e a corrupção no meio político do Brasil não despertaram nenhuma sensação de novidade na tailandesa Monsicha Somburanasin, 30 anos. Ela já estava adaptada ao noticiário de crimes nas ruas e roubalheiras dos representantes políticos em seu país quando se mudou para Rio Verde há quase dois anos. “A diferença”, espanta-se a oriental, “é que aqui se a pessoa for ‘importante’, ela nunca vai para a cadeia.”
Uma vez envolvido em uma falcatrua, explica, o político tailandês está fora para sempre da vida pública. Ao invés de esperar a próxima eleição para pedir votos de novo, o sujeito normalmente mal tem coragem para sair de casa. Isto quando não está atrás das grades. “Aquela pessoa passa a ser rejeitada no seu bairro, na sua comunidade e mal vista em todos os lugares.”
Valores diferentes
As discrepâncias entre os modos de vida oriental e ocidental são gritantes. Na família tailandesa à mulher e aos filhos cabe um papel de inferioridade e submissão ao chefe da casa. Na Suécia, onde “Fai” (apelido que quer dizer “algodão”) estudou administração de empresas por dois anos, ela diz que era justamente o oposto. “Lá as mulheres têm mais força do que os homens. Os melhores salários estão com elas.”
Acostumada à tradição oriental de veneração ao idoso, que é visto como fonte de experiência e sabedoria acumulada, ela não deixa de lamentar o rótulo de ultrapassado e descartável que costumamos pregar nos velhos. Com mais de 90% da população budista, Fai conta que as figuras mais elevadas na escala de respeito do povo tailandês são os monges, os idosos e os professores. Além do profundo respeito da sociedade, relata, a profissão de professor é uma das mais bem remuneradas do país.


Hondurenho destaca “arte de viver”

Há 21 anos em Rio Verde, o hondurenho Gustavo Pazzetti Ordoñez vê mais semelhanças do que diferenças no comportamento do povo do Caribe com os hábitos brasileiros. “Ambos são expansivos, alegres”, fala, “a diferença é que o brasileiro é o povo mais solidário do mundo.” A opinião é baseada em experiências da época de estudante no Brasil, quando relata que recebeu apoio de pessoas que sequer conhecia quando precisou.
Hoje professor de Agronomia na Universidade de Rio Verde (Unirv) e participando de eventos da área em vários países, ele garante que o brasileiro é o único povo capaz de jamais perder a ironia e a alegria de espírito. “O sujeito pode estar na pior, que ainda assim faz piada com a própria cara.”
Gustavo acredita foi feliz na escolha por Rio Verde. “É um berço de tecnologia e uma grande riqueza de oportunidades.” Segundo ele, a estrutura do agronegócio erguida na cidade oferece oportunidades muitas vezes até melhores do que nos grandes aglomerados urbanos. “Aqui o profissional pode se realizar profissionalmente e viver com sua família sem perder a qualidade de vida.”

terça-feira, 12 de novembro de 2013

7 Perguntas para Dedé Santana


Dedé Santana tem uma vida inteira no circo. Estreou no colo da mãe aos três meses de idade em uma sátira da Cabana do Pai Tomás. Foi lá que, ainda na infância, ele e os cinco irmãos um dia apresentaram um espetáculo ao mesmo tempo em que o pai era velado nos fundos da mesma estrutura de lona. É lá que está até hoje, aos 76 anos. Foi lá que a King falou com ele, durante  uma rápida mas intensa maratona de apresentações em Rio Verde. Durante três dias e seis shows, o velho palhaço virou menino de novo no picadeiro do Circo Zanchettini.


Você é o cara que levou o circo para a televisão brasileira. O que isso acrescentou para Os Trapalhões e para o humor na TV?
Olha, pros Trapalhões acrescentou bastante. Por que o único de circo ali era o Dedé mesmo. O Mussum vinha da Aeronáutica, o Zacarias vinha do rádio, o Renato era advogado (risos) e entrou comigo na televisão. Com orgulho que eu digo que levei esse humor circense pra televisão. Não só eu, mas gente como Lima Duarte e tantos outros, principalmente na TV Tupi e na TV Record. A televisão brasileira foi toda ela calçada no circo.
Como foi convencer o Mussum de que ele era um tremendo humorista quando o negócio dele era tocar samba?
Não foi fácil (risos). Nessa época ele fazia muito show em São Paulo e eu assistia todas as rodas de samba que ele fazia. Antes de começar o espetáculo, ele conversava com o público e fazia todo mundo dar risada. Eu insistia que ele era um baita humorista, mas ele respondia com aquele jeitão dele “eu sou é tocador de reco-reco, cacildis”. Depois o Chico (Anysio) viu alguma coisa dele e ele chegou a participar da Escolinha do Professor Raimundo. Quando a gente resolver colocar mais um nos Trapalhões, eu falei pro Renato que conhecia um negão perfeito. O  Mussum relutou muito, mas a gente tinha muita amizade e acabei conseguindo. Na terceira semana de Trapalhões, a gente viu que ele já tinha deslanchado.
Quando você estava no SBT, Silvio Santos colocou o seu programa no mesmo horário da Turma do Didi na Globo e você acabou ganhando em audiência...
Sim (interrompendo), mas eu não gostava disso não. O Silvio gosta disso. Como não é a gente que manda, a gente obedece, mas não gosto dessas coisas. Foi o seguinte. Acabou Os Trapalhões, Dedé e Didi foram entregar um prêmio em Portugal e acabamos sendo contratados. Era para ficar um mês, mas ficamos quatro anos em primeiríssimo lugar de audiência. Foi maravilhoso. Aí quando voltei, não estava mais na Globo e fui convidado pra fazer a Escolinha do Barulho na Record. Fiz durante um tempo e depois o Beto Carreiro me chamou para fazer Dedé e o Comando Maluco. Gostei da ideia, criei os personagens e escrevi os programas. Graças a Deus deu certo. Ficamos quatro anos no SBT, até que o Beto faleceu e acabou o programa. O Beto era um grande amigo que eu tinha. Ele começou pequenininho no circo do meu pai pedindo pra ser artista.
Qual é o grande sonho que ainda deseja realizar na carreira?
Eu tenho o projeto de fazer um papel sério no cinema. Nem que seja a última coisa que eu faça na minha carreira. Só como ator. Não quero dirigir ao mesmo tempo para não desviar a atenção como ator. Assim como todo o pessoal do circo Zanchettini, eu trabalhei no circo-teatro. Eu fiz drama, comédia e muita chanchada. Eu tenho muita vontade de fazer um papel sério no cinema. Acredito que se eu correr um pouco consigo fazer isso antes de morrer.
Você já foi candidato a vereador e a deputado estadual no Rio de Janeiro. A política continua nos seus planos?
Eu ganhei pra vereador no Rio. Ganhei, mas não levei. Meu partido não alcançou o coeficiente eleitoral. Eu tenho colegas famosos do humor que se elegeram recentemente e me falaram “Dedé, não se mete porque não vão deixar você fazer nada. O esquema na política é complicado...” Eu queria marcar meu nome num trabalho com as crianças. Não como humorista, mas com um trabalho social bonito. Tinha uma rodoviária enorme da prefeitura abandonada onde eu enxergava um complexo enorme com circo-escola e tudo mais. Eu cheguei a conversar com o atual prefeito (Eduardo Paes), que me disse que ajudaria a tocar esse projeto.
Você já contou que a experiência mais triste que teve no circo foi se apresentar no picadeiro ao mesmo tempo em que seu pai era velado nos fundos. Qual foi a experiência mais feliz?
Parece até chavão, mas é a verdade. A grande alegria é ver a criança sorrir. Quando eu falo criança eu não digo só a criança pequenininha, eu digo gente como você, que chegou falando que era nosso fã, pessoas que poderiam ser meus tios, meus irmãos ou um avô que gosta do nosso trabalho. Isso que traz a maior alegria. Onde eu gosto de estar mais é no picadeiro. Pode ser com o circo cheio ou com pouca gente, não importa. Eu amo o picadeiro.
Qual é o futuro do circo?

Rapaz, se o governo não der apoio vai acabar, o que é uma grande pena. O circo deu uma contribuição enorme não só para a televisão, mas também para o cinema. Os maiores artistas do mundo foram circenses. Quando perguntaram para o Chaplin quem era o maior comediante do mundo ele respondeu que era o Cantinflas. O ator Burt Lancaster foi um grande trapezista e fez um filme como o nome de “O Trapézio.” Tem o Kirk Douglas, que é pai do Michael Douglas e muitos outros que foram pra Hollywood. No Brasil temos agora o Henri Castelli, que é de uma família de trapezistas de circo, que hoje é o galã da novela Flor do Caribe. Apesar dessas dificuldades, tem uma nova geração que é muito boa. 

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Entrevista Nelson Piquet

“Ganhei mais como empresário do que piloto”

Ao invés de carros de corrida, o campeão hoje pilota um empreendimento responsável pela segurança de mais de 21 mil caminhões


Aos 40 anos de idade, Nelson Piquet saiu das pistas de Fórmula 1 para entrar no mundo dos negócios sem pisar nos freios. Hoje, aos 60, somente a Autotrac (principal empresa do grupo Piquet) garante ao tri-campeão mundial um faturamento anual pelo menos seis vezes maior do que os salários das melhores épocas de Williams, Lotus ou Benetton.
Em uma entrevista rápida nas poltronas à beira da piscina do Blue Tree Hotel em Rio Verde – uma das mais de 150 cidades em que ele fecha pessoalmente os negócios – o piloto que criticava com acidez Galvão Bueno e não escondia a rixa com Ayrton Senna deu lugar ao empresário equilibrado, que compara a realização das corridas à responsabilidade de ser dono de um negócio que envolve o trabalho de 60 mil pessoas. A Autotrac, que já chegou a dominar 70% do mercado de rastreamento de veículos de carga no País, hoje tem cerca de um terço do setor e mantém braços comerciais na Argentina. O faturamento anual atinge os 400 milhões de reais.
Nelson é casado e tem filhos com a empresária Viviane Piquet, que visita com assiduidade e discrição a família em Rio Verde, aproveitou para falar sobre os planos de investimento em Goiás. O inventor do aquecimento de pneus nas corridas afirmou que também foi possível criar inovações no segmento empresarial. No pouco que falou sobre política, o carioca – que é filho do ex-ministro da Saúde Estácio Gonçalves Souto Maior – reafirmou que ser filho de político deixou de ser motivo de orgulho no Brasil. “Hoje o sujeito tem vergonha de falar uma coisa dessas.”

A segurança era sua principal preocupação quando resolveu implantar e adequar um sistema de monitoramento de frotas que era usado nos EUA para a realidade das rodovias brasileiras?
Sem dúvida. O sistema funcionava com sucesso nos EUA apenas como um sistema de logística. No início vender só logística no Brasil era complicado. A preocupação já era a segurança. Hoje ela é uma obrigação de qualquer empresa do ramo. Atualmente toda nossa tecnologia de softwares está voltada para logística e telemetria. A parte da segurança tem que funcionar fantasticamente para a empresa ter o ganho com novos produtos e serviços. Um caminhão de um frigorífico custa R$ 500 mil. Agora imagina se uma empresa que tem 100 caminhões desses não precisa de segurança e controle total do seu patrimônio.
As principais marcas da sua carreira como piloto foram sem dúvida a inovação e a agressividade. Como empresário, acha que também conseguiu imprimir essas características?
Nós fizemos aqui no Brasil muita coisa que não tem em lugar nenhum do mundo. Desenvolvemos toda a parte de segurança, que foi um trabalho constante de 20 anos, e criamos o Caminhoneiro Autônomo. O que é isso? Você tem um caminhão e compra o nosso sistema completo sem precisar pagar mais nada. Criamos um sistema que torna possível a nosso cliente  a qualquer momento contratar 21 mil caminhões do tamanho que ele precisa, na hora e no local que escolher. O crescimento tem sido de 5 mil caminhões ao ano. Isso é uma inovação que não existe nos EUA nem em qualquer outro lugar. Só no Brasil.
Quantas pessoas trabalham para manter um sistema desse porte em atividade?
Temos um escritório em Brasília com 300 funcionários de altíssimo padrão e umas 46 revendedoras autorizadas no País inteiro. Só aí estamos falando de 1.500 pessoas. Cada um dos nossos 20 mil clientes normalmente mantém três ou quatro pessoas por cada sistema. Então são mais de 60 mil pessoas trabalhando com monitoramento via satélite conosco.
Existem planos de investimento em Goiás?
Sim, essa região é muito importante para a empresa devido ao escoamento da produção agrícola. Temos concessionárias autorizadas em Rio Verde e em Goiânia. Já está no programa montar uma nova unidade em Anápolis, que vai ficar espremida entre Goiânia e Brasília, mas é necessária, além de diversos outros pontos de apoio.
Você se considera mais bem sucedido como piloto ou como empresário?
São duas épocas diferentes. Realmente o automobilismo tem todo um perigo de vida e dá muita satisfação, mas a luta de começar a trabalhar aos 40 anos e montar uma empresa bem sucedida é uma realização tão grande como foi a carreira de piloto. Se você contar em valores comerciais, eu ganhei muito mais dinheiro com a Autotrac do que com o esporte, apesar de também ter tido muito sucesso no automobilismo. Eu me sinto feliz de ter começado nessa idade e ter dado certo. Hoje eu tenho 60 anos. Gosto muito de trabalhar. Praticamente todos os diretores da empresa estão comigo desde o começo e foi onde conquistaram o primeiro emprego. Hoje estão casados, com filhos e ganhando bem. É um sentimento realmente muito bacana nessa fase da minha vida. 
Você já disse que ter algum político na família já foi motivo de orgulho no Brasil, mas que isso hoje em dia não envaidece mais ninguém...
Falei e falo de novo. Por que na minha época ser filho de um político era uma coisa bacana de contar para os amigos. Meu pai foi deputado federal, ministro da Saúde e um grande médico. Com a corrupção generalizada, hoje o sujeito tem vergonha de falar uma coisa dessas. Tem gente séria? Deve ter, mas você vê que primeiro o cara gasta uma fortuna para ser eleito. Já começa gastando muito mais do que vai receber de salário. Será que esse cara quer trabalhar de graça para o Brasil ou ele já entra com a intenção de fazer um fuzuê?