As histórias nuas e cruas de quem esteve na
mira dos submarinos alemães e assistiu soldados serem abatidos não por
morteiros ou granadas, mas pelas doenças e falta de condições nos quartéis
Único
rio-verdense vivo a ter servido a Força Expedicionária Brasileira (FEB) na 2ª
Guerra Mundial, o veterano Agostinho José Macedo não é do tipo que fala com o
ufanismo que muitos esperam de um ex-combatente. E não é à toa. Simplesmente
não dá pra lembrar com muita saudade dos três anos que passou em um quartel com
650 homens, sem as menores condições de higiene e sobrevivendo de uma mistura
de abóbora, feijão e arroz.
Hoje com 92
anos, ele articula a narrativa das histórias que aconteceram 70 anos atrás como
se elas tivessem acontecido na semana passada. Lembra-se, por exemplo, da
convocação para a guerra que tirou de suas famílias milhares de soldados
brasileiros. Agostinho tinha 21 anos e havia acabado de se formar na primeira
turma do Tiro de Guerra de Rio Verde. “A gente saiu de casa sem saber se
voltaria vivo.”
Sem saber se
a qualquer momento seria mandado ou não para o combate em terra na Europa, foi
enviado para a Ilha de Cananéia, no litoral da Bahia, em 1941 e só retornou
depois do fim do conflito, em 1944. No quartel, viu muitos colegas serem
abatidos não por rajadas de metralhadora ou granadas, mas pelas doenças que se
alastravam entre os reclusos. Um ano após sua chegada, ele mesmo vislumbrou a
morte de perto. Estava em um dos seis navios que partiriam do litoral brasileiro
para cruzar o Atlântico. Ao ser informado de que as cinco primeiras embarcações
tinham sido atacadas pelos torpedos dos submarinos alemães, o comandante
abortou o projeto. “A gente já tinha avistado muitos submarinos e sabia que
estava na mira.”
Apesar da recepção
festiva que os pracinhas brasileiros tiveram ao retornar para os seus lares, os
combatentes ainda enfrentariam uma batalha de décadas pela aposentadoria. Foi
apenas no governo de Fernando Collor de Melo, em 1992, que Agostinho e os
demais ex-combatentes que restavam vivos passaram a receber suas
aposentadorias. “Collor é de família de militares, então acho que ele ficou com
vergonha de não pagar essa dívida.” Diferentemente da sorte de outros
pracinhas, Agostinho voltou para sua terra com saúde de ferro e muita
disposição para trabalhar.
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