Dedé Santana
tem uma vida inteira no circo. Estreou no colo da mãe aos três meses de idade
em uma sátira da Cabana do Pai Tomás. Foi lá que, ainda na infância, ele e os
cinco irmãos um dia apresentaram um espetáculo ao mesmo tempo em que o pai era
velado nos fundos da mesma estrutura de lona. É lá que está até hoje, aos 76
anos. Foi lá que a King falou com ele, durante uma rápida mas intensa maratona de
apresentações em Rio Verde. Durante três dias e seis shows, o velho palhaço
virou menino de novo no picadeiro do Circo Zanchettini.
Você é o cara que levou o circo para a
televisão brasileira. O que isso acrescentou para Os Trapalhões e para o humor
na TV?
Olha, pros
Trapalhões acrescentou bastante. Por que o único de circo ali era o Dedé mesmo.
O Mussum vinha da Aeronáutica, o Zacarias vinha do rádio, o Renato era advogado
(risos) e entrou comigo na televisão. Com orgulho que eu digo que levei esse
humor circense pra televisão. Não só eu, mas gente como Lima Duarte e tantos
outros, principalmente na TV Tupi e na TV Record. A televisão brasileira foi
toda ela calçada no circo.
Como foi convencer o Mussum de que ele era
um tremendo humorista quando o negócio dele era tocar samba?
Não foi
fácil (risos). Nessa época ele fazia muito show em São Paulo e eu assistia
todas as rodas de samba que ele fazia. Antes de começar o espetáculo, ele
conversava com o público e fazia todo mundo dar risada. Eu insistia que ele era
um baita humorista, mas ele respondia com aquele jeitão dele “eu sou é tocador
de reco-reco, cacildis”. Depois o Chico (Anysio) viu alguma coisa dele e ele
chegou a participar da Escolinha do Professor Raimundo. Quando a gente resolver
colocar mais um nos Trapalhões, eu falei pro Renato que conhecia um negão
perfeito. O Mussum relutou muito, mas a
gente tinha muita amizade e acabei conseguindo. Na terceira semana de
Trapalhões, a gente viu que ele já tinha deslanchado.
Quando você estava no SBT, Silvio Santos
colocou o seu programa no mesmo horário da Turma do Didi na Globo e você acabou
ganhando em audiência...
Sim
(interrompendo), mas eu não gostava disso não. O Silvio gosta disso. Como não é
a gente que manda, a gente obedece, mas não gosto dessas coisas. Foi o
seguinte. Acabou Os Trapalhões, Dedé e Didi foram entregar um prêmio em
Portugal e acabamos sendo contratados. Era para ficar um mês, mas ficamos
quatro anos em primeiríssimo lugar de audiência. Foi maravilhoso. Aí quando
voltei, não estava mais na Globo e fui convidado pra fazer a Escolinha do
Barulho na Record. Fiz durante um tempo e depois o Beto Carreiro me chamou para
fazer Dedé e o Comando Maluco. Gostei da ideia, criei os personagens e escrevi
os programas. Graças a Deus deu certo. Ficamos quatro anos no SBT, até que o
Beto faleceu e acabou o programa. O Beto era um grande amigo que eu tinha. Ele
começou pequenininho no circo do meu pai pedindo pra ser artista.
Qual é o grande sonho que ainda deseja
realizar na carreira?
Eu tenho o
projeto de fazer um papel sério no cinema. Nem que seja a última coisa que eu
faça na minha carreira. Só como ator. Não quero dirigir ao mesmo tempo para não
desviar a atenção como ator. Assim como todo o pessoal do circo Zanchettini, eu
trabalhei no circo-teatro. Eu fiz drama, comédia e muita chanchada. Eu tenho
muita vontade de fazer um papel sério no cinema. Acredito que se eu correr um
pouco consigo fazer isso antes de morrer.
Você já foi candidato a vereador e a
deputado estadual no Rio de Janeiro. A política continua nos seus planos?
Eu ganhei
pra vereador no Rio. Ganhei, mas não levei. Meu partido não alcançou o
coeficiente eleitoral. Eu tenho colegas famosos do humor que se elegeram
recentemente e me falaram “Dedé, não se mete porque não vão deixar você fazer
nada. O esquema na política é complicado...” Eu queria marcar meu nome num
trabalho com as crianças. Não como humorista, mas com um trabalho social
bonito. Tinha uma rodoviária enorme da prefeitura abandonada onde eu enxergava um
complexo enorme com circo-escola e tudo mais. Eu cheguei a conversar com o
atual prefeito (Eduardo Paes), que me disse que ajudaria a tocar esse projeto.
Você já contou que a experiência mais
triste que teve no circo foi se apresentar no picadeiro ao mesmo tempo em que
seu pai era velado nos fundos. Qual foi a experiência mais feliz?
Parece até
chavão, mas é a verdade. A grande alegria é ver a criança sorrir. Quando eu
falo criança eu não digo só a criança pequenininha, eu digo gente como você,
que chegou falando que era nosso fã, pessoas que poderiam ser meus tios, meus
irmãos ou um avô que gosta do nosso trabalho. Isso que traz a maior alegria.
Onde eu gosto de estar mais é no picadeiro. Pode ser com o circo cheio ou com
pouca gente, não importa. Eu amo o picadeiro.
Qual é o futuro do circo?
Rapaz, se o
governo não der apoio vai acabar, o que é uma grande pena. O circo deu uma
contribuição enorme não só para a televisão, mas também para o cinema. Os
maiores artistas do mundo foram circenses. Quando perguntaram para o Chaplin
quem era o maior comediante do mundo ele respondeu que era o Cantinflas. O ator
Burt Lancaster foi um grande trapezista e fez um filme como o nome de “O
Trapézio.” Tem o Kirk Douglas, que é pai do Michael Douglas e muitos outros que
foram pra Hollywood. No Brasil temos agora o Henri Castelli, que é de uma
família de trapezistas de circo, que hoje é o galã da novela Flor do Caribe.
Apesar dessas dificuldades, tem uma nova geração que é muito boa.
Dedé, você é dez!!!! O meu trapalhão favorito!!!
ResponderExcluirDEDÉ FOREVER!!!!!!!!