terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Culturama: De volta para o futuro

Colunista espera que bandinhas medíocres de hoje não sejam sequer lembradas amanhã
Emmanoel Capparelli
Há quase 20 anos, o Nirvana lançava seu terceiro álbum de estúdio: “In Utero”. Uma faixa muito interessante desse album é “Serve The Servants”, que tinha a seguinte frase como inicio: “Teenage angst has paid off well. Now I'm bored and old”. Em uma tradução bem objetiva poderíamos dizer o seguinte: “A angústia adolescente já deu o que tinha que dar, agora estou entediado e velho”. O interessante é que na época eu não conseguia entender o que Kurt Cobain queria dizer com isso. Talvez porque, quase 20 anos atrás, a minha angústia adolescente ainda não tinha dado o que tinha que dar.
Há exatos 20 anos, em 1991, os álbuns que mais influenciaram a geração que hoje tem os seus 30, 40 anos eram lançados. Alguns exemplos são o Ten (Pearl Jam), Use Your Illusion I e II (Guns N Roses), o Black Album (Metallica), Acthung Baby (U2), Blood Sugar Sex Magic (Red Hot Chili Peppers) e o Nevermind (Nirvana), sendo este considerado por muitos críticos como o divisor de águas da década de 90.
Naquela época eu achava que nada poderia superar tais obras de arte. Lembro dos “velhos coroas” me dizendo que na época deles é que a música era perfeita, que tudo isso que estava saindo nada mais eram do que “cópias mal feitas” das tais obras primas da década de 70. Eu odiava aquilo, odiava aqueles “hippies do passado”querendo entender mais de musica do que eu. Não aceitava aquelas pessoas que viviam do passado. De músicas obsoletas, de bandas ultrapassadas como The Who, Pink Ployd, Genesis, e tantas outras que não tinham nada melhor a oferecer do que meus ídolos do presente.
O pior dessa historia começa agora. 
Recentemente estava lendo uma lista de álbuns clássicos, e nelas sempre os presentes Yes, The Police, The Clash, The Who e muitos outros tradicionais dessas listas. Mas de repente me deparo com um erro gravíssimo. O álbum Ten do Pearl Jam incluído nesta lista. Como bom goiano, disse: “Uai!! Tá errado!!”
Fiquei muito magoado com um erro dessa gravidade. Mas aí me lembrei novamente da frase do Nirvana. E me lembrei também de debater com esses “moleques”de hoje com suas bandinhas medíocres que nada mais são do que puras “cópias mal feitas” das minhas grandes bandas. Como bom goiano que sou, disse novamente: “Uai!! Num é possivel!!”
Mas,infelizmente, é possível.  O que faziam comigo vinte anos atrás, eu estava fazendo exatamente igual. E o pior é que entendi que, assim como eles, eu não enxergava que a minha geração musical tinha ficado no passado. É como se parássemos no tempo em uma época única musicalmente. Mas o que me deixa contente é que hoje consigo perceber também a grandiosidade das bandas do passado. Sem elas, os grandes álbuns que neste ano completaram seus 20 anos não existiriam realmente. E espero que, daqui 20 anos, esses “moleques”entendam o que os “hippies”da década de 90 tentaram dizer a eles.Mas espero muito que daqui 20 anos, bandas como Restart, Cine, Fresno, Simple Plan, Justin Bieber e  Jonas Brothers realmente não venham a influenciar ninguém e, principalmente, que não exista nenhum fã destas bandas escrevendo uma matéria como essa reverenciando bandas antigas como formadores de álbuns clássicos.


Emmanoel Capparelli é diretor da Rádio 96 FM.

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