terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Culturama: Lixo, puto e debochado

É com a insolência do título acima que o primeiro “jornal” de Rio Verde se autodefinia logo na primeira página. Com “tiragem máxima” de um exemplar e publicação “caduca”, foi publicado em 1928 por João Sem Aço. Pobre e leproso, João Coelho Ferreira criticava os “almofadinhas pelados” e satirizava a aldeia das abóboras em versos e crônicas que vendia na rua em troca de ajuda. Também assinava seus textos como João Esparramado Limpo, João Destemperado e João Abobra de Poico. 
O Vagalume teve pelo menos 39 edições e trazia sempre o aviso: “O João Sem Aço paga e gratifica bem a quem achar a vergonha dele. Suppõe-se de elle a haver perdido, nas immediações do destrito de onde o Sol não Bate. A vergonha é cor castanha tendo visivelmente a marca zero atraz. A Redacção.” A cada novo exemplar, enfatizava que o jornal com nome de inseto não pouparia ninguém. “Brancos, pretos, tortos ou aleijados. Todos entrarão na mandioca de um modo prático e econômico.”
O jornal era usado por João para mandar recados, fazer piada e até para exigir postura mais correta das autoridades locais na entrada do cinema. “Dois moços batutas e empregados do alto comercio andarem a brigar todos os dias com os porteiros, para entrarem de Beira, é muito triste!...!”. Também utilizava-se com classe do jornal para advertir funcionários mal educados da mesma empresa: “Olha, creôlinho de uma figa, respeita mais as familias, ao contrario o Vagalume te levará para o corredor!...”

O Interá da Pobreza
Os rico fais as prumavera
Com festejo e com fuguete;
Os pobre fais uma misera
Qui acaba em purrete.

Os rico tem homenage
E uma baita de mesada.
Os pobre arranja uma lavage
Cum pipoca arrebentada.

Na festa de gente rico
Em tudo tem harmunia;
Com os pobre é só fuchico
Qui termina em anarquia.
(...)
Os rico dança immorá
E cuas moça pagodeia;
Os pobre se fore arriscá
Posam tudo na cadeia (...)

Lágrimas de um condemnado
Mantendo a ortografia original e até os erros de português, a Academia Rio-Verdense de Letras, Artes e Ofícios acaba de lançar “Lagrimas de um condemnado.” O livro, que reúne diversos textos escritos por João Sem Aço nas décadas de 1920 e 30 foi o primeiro a ser editado em Rio Verde. É um apanhado de cartas e notícias que retratam o modo de vida da época e os sofrimentos causados por uma doença que era tida como uma maldição. Ele morreu aos 35 anos de idade em 1937.

Nenhum comentário:

Postar um comentário