terça-feira, 12 de novembro de 2013

7 Perguntas para Dedé Santana


Dedé Santana tem uma vida inteira no circo. Estreou no colo da mãe aos três meses de idade em uma sátira da Cabana do Pai Tomás. Foi lá que, ainda na infância, ele e os cinco irmãos um dia apresentaram um espetáculo ao mesmo tempo em que o pai era velado nos fundos da mesma estrutura de lona. É lá que está até hoje, aos 76 anos. Foi lá que a King falou com ele, durante  uma rápida mas intensa maratona de apresentações em Rio Verde. Durante três dias e seis shows, o velho palhaço virou menino de novo no picadeiro do Circo Zanchettini.


Você é o cara que levou o circo para a televisão brasileira. O que isso acrescentou para Os Trapalhões e para o humor na TV?
Olha, pros Trapalhões acrescentou bastante. Por que o único de circo ali era o Dedé mesmo. O Mussum vinha da Aeronáutica, o Zacarias vinha do rádio, o Renato era advogado (risos) e entrou comigo na televisão. Com orgulho que eu digo que levei esse humor circense pra televisão. Não só eu, mas gente como Lima Duarte e tantos outros, principalmente na TV Tupi e na TV Record. A televisão brasileira foi toda ela calçada no circo.
Como foi convencer o Mussum de que ele era um tremendo humorista quando o negócio dele era tocar samba?
Não foi fácil (risos). Nessa época ele fazia muito show em São Paulo e eu assistia todas as rodas de samba que ele fazia. Antes de começar o espetáculo, ele conversava com o público e fazia todo mundo dar risada. Eu insistia que ele era um baita humorista, mas ele respondia com aquele jeitão dele “eu sou é tocador de reco-reco, cacildis”. Depois o Chico (Anysio) viu alguma coisa dele e ele chegou a participar da Escolinha do Professor Raimundo. Quando a gente resolver colocar mais um nos Trapalhões, eu falei pro Renato que conhecia um negão perfeito. O  Mussum relutou muito, mas a gente tinha muita amizade e acabei conseguindo. Na terceira semana de Trapalhões, a gente viu que ele já tinha deslanchado.
Quando você estava no SBT, Silvio Santos colocou o seu programa no mesmo horário da Turma do Didi na Globo e você acabou ganhando em audiência...
Sim (interrompendo), mas eu não gostava disso não. O Silvio gosta disso. Como não é a gente que manda, a gente obedece, mas não gosto dessas coisas. Foi o seguinte. Acabou Os Trapalhões, Dedé e Didi foram entregar um prêmio em Portugal e acabamos sendo contratados. Era para ficar um mês, mas ficamos quatro anos em primeiríssimo lugar de audiência. Foi maravilhoso. Aí quando voltei, não estava mais na Globo e fui convidado pra fazer a Escolinha do Barulho na Record. Fiz durante um tempo e depois o Beto Carreiro me chamou para fazer Dedé e o Comando Maluco. Gostei da ideia, criei os personagens e escrevi os programas. Graças a Deus deu certo. Ficamos quatro anos no SBT, até que o Beto faleceu e acabou o programa. O Beto era um grande amigo que eu tinha. Ele começou pequenininho no circo do meu pai pedindo pra ser artista.
Qual é o grande sonho que ainda deseja realizar na carreira?
Eu tenho o projeto de fazer um papel sério no cinema. Nem que seja a última coisa que eu faça na minha carreira. Só como ator. Não quero dirigir ao mesmo tempo para não desviar a atenção como ator. Assim como todo o pessoal do circo Zanchettini, eu trabalhei no circo-teatro. Eu fiz drama, comédia e muita chanchada. Eu tenho muita vontade de fazer um papel sério no cinema. Acredito que se eu correr um pouco consigo fazer isso antes de morrer.
Você já foi candidato a vereador e a deputado estadual no Rio de Janeiro. A política continua nos seus planos?
Eu ganhei pra vereador no Rio. Ganhei, mas não levei. Meu partido não alcançou o coeficiente eleitoral. Eu tenho colegas famosos do humor que se elegeram recentemente e me falaram “Dedé, não se mete porque não vão deixar você fazer nada. O esquema na política é complicado...” Eu queria marcar meu nome num trabalho com as crianças. Não como humorista, mas com um trabalho social bonito. Tinha uma rodoviária enorme da prefeitura abandonada onde eu enxergava um complexo enorme com circo-escola e tudo mais. Eu cheguei a conversar com o atual prefeito (Eduardo Paes), que me disse que ajudaria a tocar esse projeto.
Você já contou que a experiência mais triste que teve no circo foi se apresentar no picadeiro ao mesmo tempo em que seu pai era velado nos fundos. Qual foi a experiência mais feliz?
Parece até chavão, mas é a verdade. A grande alegria é ver a criança sorrir. Quando eu falo criança eu não digo só a criança pequenininha, eu digo gente como você, que chegou falando que era nosso fã, pessoas que poderiam ser meus tios, meus irmãos ou um avô que gosta do nosso trabalho. Isso que traz a maior alegria. Onde eu gosto de estar mais é no picadeiro. Pode ser com o circo cheio ou com pouca gente, não importa. Eu amo o picadeiro.
Qual é o futuro do circo?

Rapaz, se o governo não der apoio vai acabar, o que é uma grande pena. O circo deu uma contribuição enorme não só para a televisão, mas também para o cinema. Os maiores artistas do mundo foram circenses. Quando perguntaram para o Chaplin quem era o maior comediante do mundo ele respondeu que era o Cantinflas. O ator Burt Lancaster foi um grande trapezista e fez um filme como o nome de “O Trapézio.” Tem o Kirk Douglas, que é pai do Michael Douglas e muitos outros que foram pra Hollywood. No Brasil temos agora o Henri Castelli, que é de uma família de trapezistas de circo, que hoje é o galã da novela Flor do Caribe. Apesar dessas dificuldades, tem uma nova geração que é muito boa. 

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