segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Entrevista Nelson Piquet

“Ganhei mais como empresário do que piloto”

Ao invés de carros de corrida, o campeão hoje pilota um empreendimento responsável pela segurança de mais de 21 mil caminhões


Aos 40 anos de idade, Nelson Piquet saiu das pistas de Fórmula 1 para entrar no mundo dos negócios sem pisar nos freios. Hoje, aos 60, somente a Autotrac (principal empresa do grupo Piquet) garante ao tri-campeão mundial um faturamento anual pelo menos seis vezes maior do que os salários das melhores épocas de Williams, Lotus ou Benetton.
Em uma entrevista rápida nas poltronas à beira da piscina do Blue Tree Hotel em Rio Verde – uma das mais de 150 cidades em que ele fecha pessoalmente os negócios – o piloto que criticava com acidez Galvão Bueno e não escondia a rixa com Ayrton Senna deu lugar ao empresário equilibrado, que compara a realização das corridas à responsabilidade de ser dono de um negócio que envolve o trabalho de 60 mil pessoas. A Autotrac, que já chegou a dominar 70% do mercado de rastreamento de veículos de carga no País, hoje tem cerca de um terço do setor e mantém braços comerciais na Argentina. O faturamento anual atinge os 400 milhões de reais.
Nelson é casado e tem filhos com a empresária Viviane Piquet, que visita com assiduidade e discrição a família em Rio Verde, aproveitou para falar sobre os planos de investimento em Goiás. O inventor do aquecimento de pneus nas corridas afirmou que também foi possível criar inovações no segmento empresarial. No pouco que falou sobre política, o carioca – que é filho do ex-ministro da Saúde Estácio Gonçalves Souto Maior – reafirmou que ser filho de político deixou de ser motivo de orgulho no Brasil. “Hoje o sujeito tem vergonha de falar uma coisa dessas.”

A segurança era sua principal preocupação quando resolveu implantar e adequar um sistema de monitoramento de frotas que era usado nos EUA para a realidade das rodovias brasileiras?
Sem dúvida. O sistema funcionava com sucesso nos EUA apenas como um sistema de logística. No início vender só logística no Brasil era complicado. A preocupação já era a segurança. Hoje ela é uma obrigação de qualquer empresa do ramo. Atualmente toda nossa tecnologia de softwares está voltada para logística e telemetria. A parte da segurança tem que funcionar fantasticamente para a empresa ter o ganho com novos produtos e serviços. Um caminhão de um frigorífico custa R$ 500 mil. Agora imagina se uma empresa que tem 100 caminhões desses não precisa de segurança e controle total do seu patrimônio.
As principais marcas da sua carreira como piloto foram sem dúvida a inovação e a agressividade. Como empresário, acha que também conseguiu imprimir essas características?
Nós fizemos aqui no Brasil muita coisa que não tem em lugar nenhum do mundo. Desenvolvemos toda a parte de segurança, que foi um trabalho constante de 20 anos, e criamos o Caminhoneiro Autônomo. O que é isso? Você tem um caminhão e compra o nosso sistema completo sem precisar pagar mais nada. Criamos um sistema que torna possível a nosso cliente  a qualquer momento contratar 21 mil caminhões do tamanho que ele precisa, na hora e no local que escolher. O crescimento tem sido de 5 mil caminhões ao ano. Isso é uma inovação que não existe nos EUA nem em qualquer outro lugar. Só no Brasil.
Quantas pessoas trabalham para manter um sistema desse porte em atividade?
Temos um escritório em Brasília com 300 funcionários de altíssimo padrão e umas 46 revendedoras autorizadas no País inteiro. Só aí estamos falando de 1.500 pessoas. Cada um dos nossos 20 mil clientes normalmente mantém três ou quatro pessoas por cada sistema. Então são mais de 60 mil pessoas trabalhando com monitoramento via satélite conosco.
Existem planos de investimento em Goiás?
Sim, essa região é muito importante para a empresa devido ao escoamento da produção agrícola. Temos concessionárias autorizadas em Rio Verde e em Goiânia. Já está no programa montar uma nova unidade em Anápolis, que vai ficar espremida entre Goiânia e Brasília, mas é necessária, além de diversos outros pontos de apoio.
Você se considera mais bem sucedido como piloto ou como empresário?
São duas épocas diferentes. Realmente o automobilismo tem todo um perigo de vida e dá muita satisfação, mas a luta de começar a trabalhar aos 40 anos e montar uma empresa bem sucedida é uma realização tão grande como foi a carreira de piloto. Se você contar em valores comerciais, eu ganhei muito mais dinheiro com a Autotrac do que com o esporte, apesar de também ter tido muito sucesso no automobilismo. Eu me sinto feliz de ter começado nessa idade e ter dado certo. Hoje eu tenho 60 anos. Gosto muito de trabalhar. Praticamente todos os diretores da empresa estão comigo desde o começo e foi onde conquistaram o primeiro emprego. Hoje estão casados, com filhos e ganhando bem. É um sentimento realmente muito bacana nessa fase da minha vida. 
Você já disse que ter algum político na família já foi motivo de orgulho no Brasil, mas que isso hoje em dia não envaidece mais ninguém...
Falei e falo de novo. Por que na minha época ser filho de um político era uma coisa bacana de contar para os amigos. Meu pai foi deputado federal, ministro da Saúde e um grande médico. Com a corrupção generalizada, hoje o sujeito tem vergonha de falar uma coisa dessas. Tem gente séria? Deve ter, mas você vê que primeiro o cara gasta uma fortuna para ser eleito. Já começa gastando muito mais do que vai receber de salário. Será que esse cara quer trabalhar de graça para o Brasil ou ele já entra com a intenção de fazer um fuzuê?

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