quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Nós segundo eles

A visão dos estrangeiros que conhecem in loco a realidade brasileira e da nossa cidade é capaz de revelar detalhes que não estamos acostumados nem queremos enxergar em nós mesmos


Nossos costumes estão tão arraigados ao nosso dia a dia que nem nos damos conta do quanto nossos hábitos podem causar estranheza para outros povos. A  conversou com estrangeiros de todas as partes do mundo em Rio Verde e constatou que eles levam tempo para se acostumar ou mesmo entender como funciona o brazilian way of life.

O belga Rudiger Van Beneden, por exemplo, até hoje não compreendeu a explicação que recebeu para o sumiço de suas malas ao pisar pela primeira vez no país. “Disseram apenas que era assim mesmo.” Casado com a empresária rio-verdense Adriana Freire Guerra e morando na cidade há quase dez anos, ele conta que as diferenças nas relações comerciais também foram um choque cultural. “Principalmente a possibilidade de pagar quase tudo em dezenas de parcelas.” Outra curiosidade: a última vez que ele tinha visto um cheque na Europa havia sido nos anos 1980. O costume de pré-datar o cheque, segundo ele, também foi uma novidade tipicamente brasileira destacada por ele.
As observações dos estrangeiros sobre  Rio Verde e o Brasil vão de questões bastante conhecidas de quem vive aqui – comer pequi, jogar futebol e dar três beijinhos na hora de cumprimentar uma mulher – até outros hábitos que surpreendem quem é de outro país.
Falar por falar
A estudante alemã Hannah-Sophia Klein Schmeink, 15 anos, que passou quase um ano na cidade não sabia que aqui não é preciso tirar os sapatos para entrar na casa de alguém. Muito menos que falar para uma pessoa que irá visitá-la não cria nenhum compromisso de ir mesmo lá. “Na minha terra, se você fala que vai, o outro fica esperando de verdade. Descobri que muitas coisas são apenas jeitos de falar e não querem dizer nada.” A europeia, que não desperdiçou a chance de conhecer as cidades turísticas e o litoral brasileiro, ficou preocupada ao descobrir que em muitos lugares a presença da polícia causa mais medo do que sensação de segurança.
A segurança pública também foi um ponto observado pela finlandesa Laura Aspää, 18 anos. Na sua terra natal, as pessoas não costumam tirar as chaves do carro nem trancar as portas. De acordo com ela, roubos e furtos são muito raros e, quando acontecem, geralmente são praticados sem violência. Hospedada na casa de uma família rio-verdense, ela também notou que os compromissos com horários são bastante flexíveis. Só depois de vários chás de cadeira, ela aprendeu que tudo começa com pelo menos uma hora de atraso. “É a primeira coisa que aviso para as pessoas de fora que vão chegar.”
Na lista de experiências de Laura no Brasil consta uma passagem por um baile funk no Rio de Janeiro. Do outro lado do mundo, as amigas ficavam escandalizadas com a sensualidade das coreografias que viam nas fotos pela internet. “Elas diziam que se minha mãe soubesse que eu estava naquele lugar me mandaria voltar imediatamente”, conta às gargalhadas. Filha de uma família de fazendeiros – coisa rara na Finlândia – Laura notou uma grande diferença no status social dos produtores rurais em Rio Verde. “Lá existe um preconceito e as pessoas ligam a figura do fazendeiro ao de uma pessoa inculta. Aqui as pessoas enxergam com muito respeito o fato de serem ligados à produção de alimentos.”


“Aqui rico não vai pra cadeia, né”, pergunta tailandesa

A violência urbana e a corrupção no meio político do Brasil não despertaram nenhuma sensação de novidade na tailandesa Monsicha Somburanasin, 30 anos. Ela já estava adaptada ao noticiário de crimes nas ruas e roubalheiras dos representantes políticos em seu país quando se mudou para Rio Verde há quase dois anos. “A diferença”, espanta-se a oriental, “é que aqui se a pessoa for ‘importante’, ela nunca vai para a cadeia.”
Uma vez envolvido em uma falcatrua, explica, o político tailandês está fora para sempre da vida pública. Ao invés de esperar a próxima eleição para pedir votos de novo, o sujeito normalmente mal tem coragem para sair de casa. Isto quando não está atrás das grades. “Aquela pessoa passa a ser rejeitada no seu bairro, na sua comunidade e mal vista em todos os lugares.”
Valores diferentes
As discrepâncias entre os modos de vida oriental e ocidental são gritantes. Na família tailandesa à mulher e aos filhos cabe um papel de inferioridade e submissão ao chefe da casa. Na Suécia, onde “Fai” (apelido que quer dizer “algodão”) estudou administração de empresas por dois anos, ela diz que era justamente o oposto. “Lá as mulheres têm mais força do que os homens. Os melhores salários estão com elas.”
Acostumada à tradição oriental de veneração ao idoso, que é visto como fonte de experiência e sabedoria acumulada, ela não deixa de lamentar o rótulo de ultrapassado e descartável que costumamos pregar nos velhos. Com mais de 90% da população budista, Fai conta que as figuras mais elevadas na escala de respeito do povo tailandês são os monges, os idosos e os professores. Além do profundo respeito da sociedade, relata, a profissão de professor é uma das mais bem remuneradas do país.


Hondurenho destaca “arte de viver”

Há 21 anos em Rio Verde, o hondurenho Gustavo Pazzetti Ordoñez vê mais semelhanças do que diferenças no comportamento do povo do Caribe com os hábitos brasileiros. “Ambos são expansivos, alegres”, fala, “a diferença é que o brasileiro é o povo mais solidário do mundo.” A opinião é baseada em experiências da época de estudante no Brasil, quando relata que recebeu apoio de pessoas que sequer conhecia quando precisou.
Hoje professor de Agronomia na Universidade de Rio Verde (Unirv) e participando de eventos da área em vários países, ele garante que o brasileiro é o único povo capaz de jamais perder a ironia e a alegria de espírito. “O sujeito pode estar na pior, que ainda assim faz piada com a própria cara.”
Gustavo acredita foi feliz na escolha por Rio Verde. “É um berço de tecnologia e uma grande riqueza de oportunidades.” Segundo ele, a estrutura do agronegócio erguida na cidade oferece oportunidades muitas vezes até melhores do que nos grandes aglomerados urbanos. “Aqui o profissional pode se realizar profissionalmente e viver com sua família sem perder a qualidade de vida.”

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