segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Culturama: Os 10 melhores começos de livros


Carlos Willian Leite
@revistabula – E-mail: carloswillian@uol.com.br

Pelo Twitter e Facebook perguntei a 35 convidados, de díspares perfis e tendências, quais eram os melhores inícios de livros que haviam lido. Cada participante poderia indicar até três começos inesquecíveis, de autores brasileiros ou estrangeiros de todas as épocas. A partir da lista dos convidados, elaborei minha lista pessoal. Discutível como todas as listas de melhores, esta também não pretende ser abrangente. E os livros citados aqui, bons ou ruins, trazem em comum o fato de ter me inspirado.
O Apanhador no Campo de Centeio 
(J.D. Salinger)
“Se querem mesmo ouvir o que aconteceu, a primeira coisa que vão querer saber é onde nasci, como passei a porcaria da minha infância, o que os meus pais faziam antes que eu nascesse, e toda essa lenga-lenga tipo David Copperfield, mas, para dizer a verdade, não estou com vontade de falar sobre isso. Em primeiro lugar, esse negócio me chateia e, além disso, meus pais teriam um troço se contasse qualquer coisa íntima sobre eles.
O Ventre
(Carlos Heitor Cony)
“Positivamente, meu irmão foi acima de tudo um torturado. Sua tor­tura seria interessante se eu a explo­rasse com critério — mas jamais me preocupei com problemas do espírito. Belo para mim é um bife com batatas fritas ou um par de coxas macias. Só creio naquilo que possa ser atingido pelo meu cuspe. O resto é cristianismo e pobreza de espírito.”
A Metamorfose
(Franz Kafka)
“Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intran­quilos, em sua cama meta­morfo­seado num inseto monstruoso. Estava dei­tado sobre suas costas duras como couraça e, ao levantar um pouco a cabeça, viu seu ventre abaulado, mar­rom, dividido por nervuras arqueadas, no topo de qual a coberta, prestes a deslizar de vez, ainda mal se sustinha. 
O Amanuense Belmiro
(Cyro dos Anjos)
“Ali pelo oitavo chope, chegamos à conclusão de que todos os problemas eram insolúveis. Florêncio propôs, então, um nono, argumentando que outro copo talvez trouxesse a solução geral. Éramos quatro ou cinco, em torno de pequena mesa de ferro, no bar do Parque. Alegre véspera de Natal! As mulatas iam e vinham, com requebros, sorrindo dengosamente para os soldados do Regimento de Cavalaria.
O Jardim do Diabo
(Luis Fernando Verissimo)

Me chame de Ismael e eu não atenderei. Meu nome é Estevão, ou coisa parecida. Como todos os homens, sou oitenta por cento água salgada, mas já desisti de puxar destas profundezas qualquer grande besta simbólica. Como a própria baleia, vivo de pequenos peixes da superfície, que pouco significam mas alimentam. 
 A Lua Vem da Ásia 
(Campos de Carvalho)

Aos 16 anos matei meu professor de lógica. Invocando a legítima defesa – e qual defesa seria mais legítima? – logrei ser absolvido por cinco votos a dois, e fui morar sob uma ponte do Sena, embora nunca tenha estado em Paris. Deixei crescer a barba em pen­samento, comprei um par de óculos para míope, e passava as noites espiando o céu estrelado, um cigarro entre os dedos. 
Dom Casmurro
(Machado de Assis)

Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumpri­men­tou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da Lua e dos ministros, e aca­bou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. 
Notas do Subsolo
(Fiódor Dostoiévski)
“Sou um homem doente... Sou mau. Não tenho atrativos. Acho que sofro do fígado. Aliás, não entendo bulhufas da minha doença e não sei com certeza o que é que me dói. Não me trato, nunca me tratei, embora respeite os médicos e a medicina. Além de tudo, sou supersticioso ao extremo; bem, o bastante para res­peitar a medicina.
Anna Kariênina
(Liev Tolstói)
“Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira. Tudo era confusão na casa dos Oblónski. A esposa ficara sabendo que o marido mantinha um caso com a ex-governanta francesa e lhe comunicara que não podia viver com ele sob o mesmo teto. Essa si­tuação já durava três dias e era um tormento para os cônjuges, para todos os familiares e para os criados.
Moby Dick
(Herman Melville)
“Chamem-me simplesmente Ismael. Aqui há uns anos não me peçam para ser mais preciso —, tendo-me dado conta de que o meu porta-moedas estava quase vazio, decidi voltar a navegar, ou seja, aventurar-me de novo pelas vastas planícies líquidas do Mundo. Achei que nada haveria de melhor para desopilar, quer dizer, para vencer a tristeza e regularizar a circulação sanguínea. 

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