segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Entrevista: José Eliton


A opinião do vice-governador de Goiás sobre o constrangimento dos conservadores brasileiros em se assumirem de direita, a popularidade do ex-presidente Lula, a faxina de Dilma Rousseff nos ministérios, Marconi Perillo, Ronaldo Caiado, carreira profissional, família, poder, moqueca de camarão, música e literatura.
O brasileiro é de direita, só que a maioria não sabe. Basta discutir temas como o casamento gay, o aborto ou a liberdade de imprensa para que a população assuma posições bem diferentes do espírito revolucionário da esquerda. A análise é do vice-governador de Goiás, José Eliton Figuerêdo Jr (DEM), que recebeu a King para uma entrevista em seu gabinete no 4º andar do Palácio Pedro Ludovico. Na opinião dele, os governos do PT acalentam políticas mais retrógradas do que os próprios militares no período de ditadura e garante que a maior distribuição de renda já feita no Brasil foi o controle da inflação colocado em prática por FHC. Lula, para ele, é apenas um bom comentarista de futebol. Em sua primeira experiência na vida pública, ele enfrentou grandes desafios. Primeiro foi encarregado de fazer a complexa transição do governo Alcides Rodrigues para a administração de Marconi Perillo e, em seguida, presidiu a Celg no momento de maior tensão na história da estatal. Integrante de uma comissão de juristas que estuda a reforma do Código Eleitoral, já tinha uma carreira consagrada na advocacia antes de entrar na política. Filho de um funcionário de carreira do Banco do Brasil, José Éliton nasceu em Rio Verde no dia 27 de agosto de 1972 e acompanhou as constantes mudanças de endereço da família até fincar raízes na cidade de Posse, onde o pai acabou se tornando prefeito em 1982. Com 1,90 m de altura, foi ainda meia de rede no time de vôlei da turma de Direito da PUC de Goiás e garante que levava jeito para o esporte. Fã de Pink Floyd e Led Zeppelin, pescador e cozinheiro nas horas vagas, não reclama do trabalho, mas lamenta o quanto a vida pública sacrifica o convívio familiar. Sempre que possível, apronta peripécias na agenda para brincar com os dois filhos e preparar uma moqueca de camarão para a esposa.

King - Como o fato do seu pai ter sido prefeito influenciou na decisão de entrar na política?
José Eliton - A gente nunca fica isento desse tipo de influência. Quando ele se tornou prefeito de Posse, eu tinha 10 anos. Quando eu concluí a faculdade de Direito, voltei para a cidade bem no momento em que ele era candidato. Ele precisava de uma assessoria jurídica para a campanha e resolvi ajudar. As campanhas eram artesanais e não existia a estrutura que vemos hoje. E, mesmo se existisse, não teríamos dinheiro para contratar. Então fui estudar direito eleitoral para ajudá-lo. Como Posse é uma cidade polo, acabamos assessorando vários municípios da região. Posteriormente, fui convidado a compor uma parceria com o dr Felicíssimo Sena em alguns processos em Goiânia e tivemos grande sucesso. Pouco a pouco, fui construindo uma participação política, mas não imaginava vir para a vida pública nem me tornar vice-governador. Em 2010, o deputado Ronaldo Caiado formalizou o convite para que eu participasse da eleição. Como eu era filiado ao DEM, entendi que deveria estar pronto para servir o partido. 

Ao contrário de muitos outros, o sr entrou na política partidária sem ter passado pela política estudantil. Por quê?
Eu sempre tive um pensamento ideológico conservador e os movimentos estudantes são quase todos aparelhados pela esquerda. Você ouve falar alguma coisa da UNE hoje em dia? Ela está numa posição de subserviência aos partidos de esquerda, especialmente o PT. O jovem é questionador por natureza. Se você tira dele o poder de questionar, você mata esses movimentos. O PT matou o movimento sindical, porque tornou todos apaniguados do poder. Os movimentos estudantis, que faziam o contraponto a qualquer situação política mais desastrosa, também sucumbiu. Como a UNE pode questionar alguma coisa se os encontros são patrocinados pelo governo do PT? 

Por que os próprios conservadores se mostram constrangidos em assumir que são “de direita”?
É um equívoco. Se você voltar na história, vai ver que o pensamento liberal, que nasceu na Revolução Inglesa, vem com a característica de combate às estruturas monárquicas, com a bandeira da liberdade, com a valorização do indivíduo e, acima de tudo, de fazer com que o Estado não seja o tutor da vida das pessoas. Ao longo dos anos, a máquina de comunicação do PT vinculou a direita ao período de exceção, mas, na verdade, o militarismo nunca representou os valores da direita, embora tenha se aliado a forças conservadoras. Ao contrário. O governo militar foi altamente estatizante, que é um pensamento adverso à direita. Foi um governo centralizador, o que o identifica muito mais com a esquerda. Um governo que tentou criar conglomerados econômicos, enquanto a vida empresarial brasileira tem uma característica absolutamente fragmentada. Tentaram copiar o modelo mexicano, em que grandes corporações dominam determinados segmentos da economia. Hoje o governo da esquerda repete os mesmos atos dos militares. Olha o BNDES. Ele alavancou o Grupo JBS, na tentativa de criar uma empresa polo para dominar o mercado de proteínas no Brasil. O problema é que a esquerda não tem a coragem de assumir publicamente essas posições. 

Mas o sr acredita que brasileiro é conservador ou ele se identifica mais com a esquerda?
A sociedade brasileira é conservadora e defende os valores da direita. Basta fazer uma pesquisa para comprovar que mais de 90% da população é a favor da propriedade privada e da defesa dessa propriedade. Se você for discutir as liberdades individuais, vai constatar que um número esmagador de cidadãos é a favor dessa prerrogativa. A população defende o direito à livre imprensa. O PT quer fazer o controle da imprensa, o que é uma afronta à liberdade de expressão. O brasileiro é extremamente conservador. Uma prova disso é que a maioria é contrária ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e ao aborto. 

Se o brasileiro é conservador, de onde vem a popularidade de Lula?
O único mérito de Lula foi ter mantido a linha econômica criada no governo FHC, que protegeu o país das crises internacionais e permitiu progressos muito fortes. É daí que derivaram todos os avanços, inclusive dos programas sociais. Hoje se você pergunta a um jovem quem acabou com a inflação, ele responde que foi o Lula. Na verdade, a maior distribuição de renda foi o controle da inflação de FHC. Lula transformou a política internacional em política do PT. Ele não criou um programa social. Ele criou um programa de dependência das pessoas. Aperfeiçoou aquilo que sempre criticou como algo da direita, criando um curral eleitoral gigantesco. 

Que nota o sr dá para o primeiro ano da presidente Dilma Rousseff?
Não tem como avaliar. Até agora não vimos realização alguma, apenas uma faxina que não termina nunca e a exposição de um sistema de cooptação de partidos através da entrega de ministérios de porta fechada, o que gera um índice de corrupção alarmante. Eu ainda não sei qual é a marca da Dilma. 
E para o governo Marconi Perillo?
Começamos o governo com um déficit de mais de 1 bilhão de reais e sem capacidade de investimento para atender as demandas. Passamos o primeiro ano tentando dar solução aos problemas maiores e conseguimos virar a página. Hoje já temos superávit e criamos condições para fazer os avanços estruturais. Reconheço que temos enfrentado problemas na saúde, na educação e na segurança, mas estamos fazendo intervenções muito fortes para garantir um serviço mais digno ao cidadão. Nós não temos preconceito da iniciativa privada e vamos explorar ao máximo as parcerias com as empresas. Analisando os últimos 10 anos, podemos observar que temos condições de enfrentar em pé de igualdade as principais potências do Sul e do Sudeste. Assim que tivermos todos os eixos estruturantes em funcionamento, teremos tudo para ser uma das maiores economias do Brasil. Hoje a nossa economia está centrada principalmente no agronegócio, mas vamos avançar para um processo de industrialização muito acentuado. 

Como especialista na área, o que acha que precisa ser mudado no sistema eleitoral brasileiro?
Primeiramente o financiamento público de campanha. Hoje vence a eleição proporcional o candidato mais rico. Sem dinheiro privado nas campanhas, vai acabar a farra da compra de votos e facilitar a ação do Ministério Público. Também defendo a lista fechada, embora muitos possam alegar que ela favoreceria os caciques. Talvez isso aconteça em um primeiro momento, mas ela fortalecerá as discussões internas.

Não existem partidos demais?
Sim, claro. Muitos são criados da noite para o dia sem o menor conteúdo. Recentemente, um partido (o PSD) foi criado porque um prefeito (de São Paulo, Gilberto Kassab) resolveu sair Brasil afora gastando dinheiro e, quando perguntado sobre a ideologia da nova sigla, não soube responder. É um partido de conveniência, que nasceu para estar com o poder onde o poder estiver. É um absurdo. Partido tem de ter uma cara. Também acho que é preciso acabar com as coligações proporcionais.

A gente gostaria que o cidadão José Eliton definisse algumas pessoas e questões em uma frase. Aborto?
Sou contra.

Casamento gay?
Acho que você tem de respeitar as posições individuais de cada um. Agora, a formalização da relação se dá por meio de contrato. Hoje já é assim na relação civil. Independentemente do sexo, duas pessoas podem formalizar a relação através de um contrato. Não precisamos nem podemos afrontar as tradições. Se por um lado a homofobia é um ato absolutamente deplorável, por outro lado não se pode tolher o direito dos que pensam diferente de manifestar nos púlpitos ou onde quer que seja suas posições. É preciso achar um equilíbrio de modo a garantir o respeito à individualidade e, ao mesmo tempo, assegurar o direito de manifestação daqueles que pensam de outra forma.

Marconi Perillo.
Um grande gestor. Um homem competente. Uma das figuras públicas mais expressivas de Goiás. Talvez o maior líder da nossa história, mesmo porque é o único homem a ser governador por três vezes.

Alcides Rodrigues.
Perdeu o tempo.

Lula.
Bom comentarista de futebol.

Dilma Rousseff.
Uma mulher que tem ideologia.

Ronaldo Caiado.
Um homem de posição.

Poder.
Se bem utilizado é importante pra construção de uma sociedade melhor.

Celg.
Já era uma grande empresa formada por grandes técnicos. Agora, saneada do ponto de vista econômico, tem tudo pra se tornar uma das maiores do País.

Corrupção.
Grande demais.
PSD.
Nada.

Uma música.
Wish you were here, do Pink Floyd, mas também gosto muito de Roberto Carlos e Caetano Veloso.

Um livro.
Germinal, de Émile Zola. Maravilhoso.

Um hobby.
Gosto de cozinhar. Faço bem uma moqueca de peixe, mas camarão eu faço melhor ainda.

Em um ano, o sr assumiu interinamente o governo de Goiás três vezes. O sr sonha em um dia ser eleito governador?
Eu defendo com todas as forças que o DEM precisa ter um candidato a governador. Agora, se será em 2014, 2018, 2022, as condições políticas é que vão dizer. Temos figuras expressivas e eu me incluo dentro desse quadro. Se sou filiado a um partido, tenho de estar pronto. Se eu encontrar esse espaço aberto, não tenha dúvidas de que eu enfrento uma eleição. Nesse momento, acho prematuro. Futuramente não teria problema algum. 

Qual é o maior ônus da vida pública?
É sacrificar a família. Esse é um fardopesado. É impossível participar ativamente da vida pública sem sacrifícios. Sempre que posso, almoço em casa, brinco com meu filho à noite, mas não tenho mais a mesma convivência de antes. Tento compensar de outras formas e me desdobrar para estar em casa e dar atenção à minha esposa. Quando estou em casa em um domingo, gosto de preparar uma moqueca de camarão e tomar um bom vinho. Procuro  preservar a minha família e evito exposições desnecessárias.

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